segunda-feira, 14 de maio de 2007

Sophia de Mello Breyner

"Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não


Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não


Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não


Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não"

9 comentários:

CaCo disse...

"Porque os outros se mascaram e tu não"

Não deixo que à flor da pele

emirja a máscara, o sorriso,

o jogo de gato-e-rato

onde, estando, nunca estou.



(uma gracinha... aproveitando o meu post de hoje)

Prof disse...

As palavras que eu não vou dizer, tu adivinhas...

TONY, Duque do Mucifal disse...

já não há herois Lois...infelizmente. Mas há malta com muita coragem e friba, lá isso há!

Rubi disse...

Uma grande poetisa, para fazer esquecer as saídas tristes do filho...

Anónimo disse...

Tenho imensa dificuldade em comentar poesia... (estranho, não é?)

Os críticos literários vêem neste poema a figura de Jesus Cristo ou de Catarina Eufémia... eu prefiro imaginar que foi baseado em alguém especial! Porque, apesar de não existirem heróis, como disse o Tony, há ainda pessoa muito especiais!

Anónimo disse...

Aniversário

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos

Um presente acompanhado com um doce beijo...

vinte e dois disse...

A diferença pode fazer muita diferença...

Unknown disse...

Algo que queiras partilhar ou é só nostalgia? ;)

Beijos

LoiS disse...

A todos os que me mandaram um sms; fizeram uma chamada; que me madaram um email; que ... sei lá mais! o meu obrigado!

Que no próximo ano, todos fortalecidos na amizade, estejamos por aqui!

Beijos a todos

PS. Afinal, 29 anos não se fazem todos os dias ;)))))))))