"Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não"
9 comentários:
"Porque os outros se mascaram e tu não"
Não deixo que à flor da pele
emirja a máscara, o sorriso,
o jogo de gato-e-rato
onde, estando, nunca estou.
(uma gracinha... aproveitando o meu post de hoje)
As palavras que eu não vou dizer, tu adivinhas...
já não há herois Lois...infelizmente. Mas há malta com muita coragem e friba, lá isso há!
Uma grande poetisa, para fazer esquecer as saídas tristes do filho...
Tenho imensa dificuldade em comentar poesia... (estranho, não é?)
Os críticos literários vêem neste poema a figura de Jesus Cristo ou de Catarina Eufémia... eu prefiro imaginar que foi baseado em alguém especial! Porque, apesar de não existirem heróis, como disse o Tony, há ainda pessoa muito especiais!
Aniversário
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos
Um presente acompanhado com um doce beijo...
A diferença pode fazer muita diferença...
Algo que queiras partilhar ou é só nostalgia? ;)
Beijos
A todos os que me mandaram um sms; fizeram uma chamada; que me madaram um email; que ... sei lá mais! o meu obrigado!
Que no próximo ano, todos fortalecidos na amizade, estejamos por aqui!
Beijos a todos
PS. Afinal, 29 anos não se fazem todos os dias ;)))))))))
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