segunda-feira, 16 de abril de 2007

Reforma antecipada

Os mais atentos sabem que não sou do partido. Mas também, inteligentemente já notaram há muito tempo, que não me sinto minimamente coagido a pensar como o “A” manda ou como o “B” proíbe!

Escrevo este post extemporâneo apenas e só para enaltecer alguém que foi uma grande deputada da República, defensora acima de tudo das mulheres e da condição destas em Portugal. Alguém que acaba de empobrecer a Assembleia da República com a sua partida.

Ficam os putos da política e parafraseando a senhora “embora eu não acredite, que trabalhem bem para o bem de Portugal!

12 comentários:

Anónimo disse...

Junto-me a ti na homenagem feita a uma grande mulher!

E como mulher que sou e amante das Belas-Letras, deixo um poema que chegou um dia a ser declamado por Odete.

Peço-te muita desculpa pelo espaço que utilizarei... :)

Calçada de Carriche

Luísa sobe,

sobe a calçada,

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe

sobe a calçada.

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.


Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga;

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



António Gedeão, Poesias Completas

LoiS disse...

A condição de mulher: escrava, usada e submissa é, em muito, culpa dessa.

Agora mais do que nunca !

Boa mensagem TERE...já te tinha dito que gosto muito de ti?

LoiS

Anónimo disse...

;)

Beijo especial! ***

Unknown disse...

Mesmo não sendo do mesmo partido também, acho que esta homenagem é bem merecida. Carismática q.b. enalteceu a "mulher" e não se restringiu apenas ao amor pelo seu partido.
Muito bem!
Beijos

PS: Cuidado com algum comentário estranho que não seja meu.

CaCo disse...

Oh Lois, até arranjaste uma foto onde a Senhora está bonita... (deve ser milagre do photoshop)

Bonita homenagem (até na foto, LOL - desculpa, mas não resisti)

Tere, a professora de português do meu filho conquistou os alunos declamando esse poema. A cena foi tão empolgante que, passados 2 anos, a professora ainda se comove quando relembra o efeito que causou no comportamento da turma a sua exibição. (aparte: Ele anda numa escola chamada António Gedeão)

Bolinha disse...

A Assembleia da República ficou mais pobre.
Bêjos.

Capitão-Mor disse...

Apesar de ela se situar nos meus antípodas políticos, tenho que reconhecer a sua dedicação ao seu partido e acredito que trabalho sempre de forma séria e em prole do bem comum.

LoiS disse...

Estou longe do PCP, mas sempre admirei esta senhora Deputada. Pelas sua dedicação, coragem e pelo ser mulher afirmativamente pró-mulheres, num mundo dominado por homens.

Anónimo disse...

Sem dúvida uma grande Mulher! Para tristeza das mulheres, não ficou lá nenhuma com os mesmos princípios.

Beijos Lois, e tu um grande Homem por teres feito esta homenagem.

Yashmeen disse...

Uma perda, acima de tudo, para a sociedade portuguesa. Esperemos que ela continue activa. Não acredito que se reforme das suas causas assim.

Abraço

PS: Em relação ao post que fizeste sobre quem "diz que faz em Espanha", acredita que em Espanha se faz muita coisa que por aqui não se consegue ;)

LoiS disse...

Yash:

Se em Espanha se faz, foi porque criaram as condições para se fazer.

Lê o artigo do "Economist".

Resumidamente refere que as reformas na Administração Pública e a contenção das despesas do estado foram feitas em tempo de vacas gordas o que provocou uma alavancagem folgada daí para a frente. A sangria foi feita quando devia ser.

Nós, como na velha fábula da Cigarra e da Formiga, muito idênticos aos nossos irmãos brasileiros, quisemos pagode e festa. "É para encher é para encher"...agora, corre-se contra o tempo, com um monstro de várias cabeças!

Lua disse...

Uma grande mulher, uma grande lutadora!