terça-feira, 6 de maio de 2008

Monotonia saborosa

Um pouco contradizendo alguns posts meus, escrevo para desabafar um dos meus prazeres, para relatar uma certa monotonia matinal muito minha.

Faço cerca de 30 minutos a pé diariamente antes de começar a trabalhar. Quando chego de manhã ao local onde trabalho, estaciono o carro e vou beber o café. Cedo me habituei a ir beber a graciosa bica um pouco mais longe do meu local de trabalho, e já lá vão 6 meses que religiosamente bebo café no mesmo sítio, a 10/15 minutos a pé do escritório, bem no centro de Lisboa.

Nesse local da bica, um pequeno espaço, sou já presenteado com o café sem que o peça. Por vezes, estou a entrar e o Sr. João, que todos tratam pelo nome próprio e que é a única pessoa que ali trabalha pela manhã, já se encontra de costas para os poucos ou nenhuns clientes agarrado à máquina para me tirar o café da praxe. Isto só por me ter avistado a chegar pela pequena montra.

Não falamos praticamente nada, só dizemos “bom dia”;“como está”;“fique bem”. O espaço é pequeno como referi e de pouca frequência, o café é “Chave de Ouro”, muito bem torrado e soberbamente apaladado. Algumas pessoas que ali param já as vou conhecendo de vista e, pelo menos uma delas, que naquela zona habita, até ao se cruzar comigo na rua em vez de o fazer no café, deliciosamente me dá os “bons-dias” e lança um “como está?”.

Afinal, eu que prezo ser uma pessoa incógnita na vida privada; eu que tento combater a monotonia e a rotina; eu que penso tantas vezes: “É hoje que vou dar a volta por outro quarteirão e beber café num outro sítio…”, nunca tal o consigo fazer. É que este hábito e esta monotonia diária agrada-me mais que aquilo que eu posso entender!

3 comentários:

Capitão-Mor disse...

Eu sou o oposto. Não consigo ter qualquer tipo de prazer na monotonia nem em qualquer tipo de rotina...
Estou a gostar deste regresso a conta-gotas.

Abraço!

Rubi disse...

Como te entendo. Ainda ontem disse ola ao seguranca do supermercado aqui ao pe do trabalho, simplesmente porque vou la todos os dias.

lélé disse...

Lembro-me de teres falado desse gosto pelo anonimato, mas acho que também comentámos que era agradável uma certa familiaridade aconchegante... Afinal, vivemos em sociedade e gostamos que sejam simpáticos connosco... sem intromissões, nem abusos, claro!...