segunda-feira, 12 de março de 2007

O estado da educação em Portugal

No meu recente périplo por diferentes destinos anti-stress de Portugal e Espanha, visitei numa das minhas tardes de relax a aldeia histórica de Sortelha.

É desse destino que trago mais um relato da minha indignação.

Em Sortelha, a paz deste guerreiro foi abruptamente interrompida por um assalto perpetrado por temíveis soldados, que após a minha primeira visita a tão imponente aldeia histórica e na fase em que já me encontrava no merecido e contemplativo descanso do guerreiro, apareceram surpreendentemente saídos de um enorme tanque de guerra. Esses bárbaros aos gritos correram desalmadamente em direcção a mim ... não tive tempo de fugir.

A minha estupefacção foi maior ainda quando os vejo em bando aos cânticos numa conquista desenfreada às muralhas fortificantes da aldeia.

Sei, por visitas anteriores bem como pela actual, que as muralhas desta linda aldeia se encontram recuperadas. Também sei que as mesmas não possuem condições mínimas de segurança. Não são mesmo aconselháveis a passeios no seu topo, pois certas zonas têm altura superior a 10 metros, com desníveis traiçoeiros, para além das escadas que a elas dão acesso não possuírem nenhum apoio a tão íngreme subida em total segurança.

Resumidamente, não são de todo aconselháveis, ainda para mais a crianças/adolescentes em euforia de bando.

No entanto, nada nem ninguém fez parar estes ilustres conquistadores. Ainda tirei umas fotos na esperança de apanhar algum deles a planar. Sabem que boas fotos são fruto da oportunidade e eu acreditei nela naquele momento ( não que a desejasse ).





Já em stress, decido dirigir-me para o bar/café que existe no interior da muralha. Queria descanso e não queria enervar-me mais com as imagens de terror que assolavam a aldeia.

No café, 3 jovens sorridentes sentados em amena cavaqueira. Dois deles, homens, visivelmente mais novos que eu, recebem do simpático proprietário do bar duas minis, a jovem, um ice-tea. Eu bebo um café ao balcão, pouco depois entram adolescentes e mais adolescentes. Não tiveram dó de mim e tomaram de assalto igualmente o café .

- Sô tôra ??? tá a beber Ice-Tea ???
- Ólhó sô tôr a dar-lhe !!!!!!!


Pois bem, os jovens sentados nesse café eram os "Sô tôres" destes soldados que sem comando se apoderavam da aldeia.

Estive para lhes perguntar o que estavam ali a fazer ? aos chamados “professores” acreditem !

Desisti pois a confusão era mais que muita. Era um entra e sai com muita conversa entre as vozes de "comando" e os soldados. Na conversa, toda ela audível, nada sobre história; cultura; civismo ou respeito pelos monumentos, as trocas de informação apenas versavam sobre as bebidas e as comidas. Os soldados, esses, abasteciam-se ali dos líquidos e das batatas fritas necessárias ao ataque final à aldeia.

Comentei com o simpático rapaz do café o sucedido. Ele ainda me foi dizendo que a aldeia nunca tem ninguém e que aquela excursão, de uma escola do norte do país, com 60 pessoas, até era bem simpática e animava a terra – entendi que era simpática e animada para o negócio ... as latas de bebidas e as garrafas de água não paravam de sair -.

Despeço-me, olho novamente para os 3 "comandantes" que nesse momento começavam a petiscar irmamente apartir de um mesmo pratinho de queijo, claro, enquanto bebiam nova rodada.

"Não vale a pena chatear-me" - pensei eu !

O repasto pareceu-me que seria demorado, talvez o tempo inteiro da visita, não sei ao certo e tudo o que dissesse ali só iria fazer com que o simpático do café tivesse problemas e, acima de tudo, que eu me aborrecesse ainda mais.

"tás de férias anti-stress pá ! " - volto a pensar enquanto paro a olhar descaradamente para o cigarro que a "professora" tira para acompanhar o queijo !

Cá fora, a imagem era monstruosa, daquelas próprias dos filmes: em que os saqueadores se apoderam das aldeias; incendeiam as casas; violam as mulheres ...


Entendi o que é o divórcio entre os professores e os alunos.

Pergunto se os pais destes miúdos sabem que os mesmos colocam irresponsavelmente as suas vidas em risco; poluem sem dó nem piedade um património da nossa cultura, sem que os responsáveis de ocasião se interessem minimamente com o facto !

Pergunto também, já agora, se os pais se importam ?

Já ouviram falar em negligência e falta de profissionalismo ? o corporativismo por certo dará razão para todo o sempre a este tipo de “profissionais” da educação.

Não se demarquem os bons, que vai tudo pelo mesmo ralo !

16 comentários:

Xuinha Foguetão disse...

Muito mau...

Beijos

edunileo disse...

Jovens inconscientes que não têm a mínima noção do perigo que correm até acontecer algum desastre maior... E isto no que respeita às possíveis quedas de uma muralha com aquelas características.

Adultos inconscientes que não têm o menor sentido de responsabilidade de menores, que não os deles...

Jovens e adultos inconscientes que não têm a mínima noção do que é respeito e civismo pelo próximo, nem pelo património de todos!

Capitão-Mor disse...

Porque é que não convocaste o Capitão-Mor para colocar ordem nas hordas de bárbaros? È uma situação lamentável. Também me recordo de laguns passeios de escola em que existiam sempre uns colegas que se excediam um pouco, mas creio que as gerações mais novas tendem a exagerar ainda mais. Tenho muita pena que os marcos da nossa História sejam desrespeitados dessa forma. Bom, mas é melhor ficar por aqui senão vou levar mais uma vez com o rótulo de fascista.

CaCo disse...

Alguns pais importam-se, acredita! Muitos professores também se importam. Também há muitos professores que odeiam passeios desses. Provavelmente esse grupo enquadrava-se neste rol. Não há justificação para esse tipo de comportamento.
Isto remete-me para uma reunião de conselho escolar (onde sou representante dos pais) cujo tema era: O mau comportamento dos meninos. Estamos a falar de "meninos" de 16 e 17 anos. O que ouvi naquela reunião requeria uma bolinha em cima. Infelizmente.

Bolinha disse...

Há gente boa e má em todas as profissões, eu garanto-te que não me calo em situações dessas, mesmo correndo riscos de ser maltratada verbalmente claro.
Há uns anos fui a Londres de férias e obrigava os meus filhos com 8 e 10 anos a põr o lixo nas mochilas até que avistassemos um caixote, e depois eles refilavam comigo porque queriam sentar-se no metro e autocarros e os bancos estavam cheios de lixo.
É a vida por isso somos diferentes.
Bêjos.
CACO cuidado ao usar a palavra Bolinha ah aha ah

Lua disse...

Impressionante... como é possivel deixar estes miudos por estes locais sem qualquer tipo de vigilancia e os profs a beberem mines e na passa... tá bem entregue a educação deste país.

Quem cuida deste Patrimonio nacional também não se isenta de culpa, no caso de uma tragédia... abre-se mais um inquérito...

Falta referir a questão da limpeza, ou falta dela, tanto se apregoa a questao do separar e reciclar para cair em saco roto nas camadas mais jovens.

Excelente "reportagem" Lois!

bjs

Anónimo disse...

Bem... antes de mais nada, há que ter bom senso e não generalizar... há maus profissionais em toda a parte. De certeza que não é só no mundo da educação que tal situação acontece; no mundo da economia também e, basta por olhinhos no estado lastimável do nosso país para corroborar esta afirmação.

Não nego que tais situações existam: sou professora do 3º ciclo e secundário e todos os dias vejo muitas incompetências/irresponsabilidades da parte dos meus colegas. Mas também te garanto, por experiência própria, que não são todos assim.

Tentar descobrir o que causa o comportamento troglodita das nossas crianças é quase como tentar saber o que nasceu 1º: o ovo ou a galinha. Serão os pais os culpados? Será a escola? Será a televisão? Será o estado económico do país que não permite que os país passem tempo de qualidade com os filhos?...

Ninguém gosta de estar ao "deus-dará"... e o comportamento excessivo deles tem, a meu ver, duas razões: 1º chamar a atenção, uma vez que a que eles recebem em casa é escassa ou intimidatória/punitiva; 2º quem nunca fez asneiras em grupo e quando era pequeno que atire a 1ª pedra...

Já sei, já sei... no meu tempo era tudo diferente...

Beijo da Tere

vinte e dois disse...

Oh, amigo Lois, nós andamos desaparecidos um do outro! Temos que nos voltar a encontrar mais vezes por estes lados ;)
Deixo aqui a minha opinião sobre educação: acho que o grande problema do estado da educação em Portugal vem precisamente porque os pais se demitem das suas funções de educadores. Aposto que estes miúdos que fizeram todo esse lixo devem ter bonitos exemplos em casa. Se os pais fazem, eles tb se dão ao luxo de o fazer. Se os pais não respeitam os professores, porque é que os filhos os haviam de respeitar? isto é uma discussão sem fim, mas para mim, a resolução dos problemas da educação passa por, em primeiro lugar, educar os pais (eu também sou pai) ;)
Um abraço

LoiS disse...

Caros,

Claro que nem tudo é igual, mas recordo-me das minhas visitas de estudo, ordeirinho e a seguir um líder que comandava e ordenava os alunos, sempre presente e sempre preocupado com quem "pisava o risco".

Esta foi mais uma experiência negativa com que me deparei.

Sabem ... não critico os miúdos ! os mesmos poderão ter "remédio" e com 13 ou 15 anos muita porcaria ainda farão. EU FIZ ! Faz mesmo parte da irreverência da adolescência.

Critico, pois sei que tenho por aqui muitíssimos blogamigos professores, alguns colegas Vossos que envergonham a Vossa classe !

Não são as crianças que sobem as muralhas e saltam no topo das mesmas as culpadas, são os adultos que têm obrigações para com elas e que se deliciam no café os CULPADOS !!!!

Sinto-me mal pois apeteceu-me dizer tudo o que pensava aos visados, acreditem ! Tenho aprendido a reservar-me um pouco mais, pois, regra geral aborreço-me e do outro lado raramente dão o braço a torcer, contra argumentam apenas.

E se alguma criança tivesse caído ?
TVI no sítio ? professores a explicarem o q ?

Tere:

O estado da economia nacional é culpa também tua, e minha e de quem nos lidera !!!! DE TODOS, o que querias dizer é que há maus Economistas, como maus Jornalistas, como maus ...
mas não dizemos isso sempre ? e isso desculpa alguém ? é como querermos dizer que nós não somos desses...certo...não somos, mas temos obrigações igualmente !

22:

Bom regresso rapaz, se os pais não dão a educação devida, e sabemos que muitos não dão nenhuma. Não deverão estes colegas teus pelo menos tentar salvar estes jovens ? tentar !!!! Ou as aulas servem apenas para debitar um programa e mais nada ???

Lenmbro-me de uma professora que tive, que em muitas aulas falava de caracter, honestidade, coragem e civismo ... era professora de Inglês !!!!!!!!!

negligência negligência negligência falta de profissionalismo falta de profissionalismos falta de profissionalismo

Lígia disse...

Chiça! diria mesmo, e se me permitires a frontalidade, foda-se!
Mas infelizmente meu caro há de tudo e é mais fácil ser irresponsavel e esperar que tudo corra bem, do que fazer qualque coisa e evitar acidentes. Infelizmente é o pais em que vivemos (e pelo relato tb é o pais em q vamos viver por muito tempo)

CaCo disse...

negligência negligência negligência falta de profissionalismo falta de profissionalismos falta de profissionalismo - Tudo verdade.
Mas, se muitas vezes os pais dão educação em casa e os miúdos se deixam levar por grupos e fazem asneiras na mesma, outras vezes não têm educação nenhuma em casa e têm um comportamento irrepreensível na escola. Também é verdade que é preciso ter "pulso", na escola, para aturar alguns alunos. Ainda é verdade que os professores não deviam ter de aturar algumas atitudes de alguns miúdos. E sim, é verdade que os professores devem educar.

O que está aqui em causa é, tão só, o comportamento daqueles professores, em particular, que tu viste ...

LoiS disse...

Os miúdos até que poderiam ser miúdos educados, tal não saberemos.

O que sei é que como miúdos que são, num grupo de dezenas em euforia, não mediram as consequências dos actos praticados. Não estavam de facto competentemente acompanhados por gente responsável e merecedora de tamanha responsabilidade.

Naquelas dezenas de alunos, por certo, existem alguns país, que colocaríam sem pejo em maus lençois aqueles "professores". Se tais acontecimentos presenciassem como eu.

Continuo a tentar penitenciar-me por não ter dito nada !

( mas tenho que controlar a minha tensão arterial, afinal, estava em descanso lol )

PS. É verdade, bem vinda CaCo, liberdade e fraternidade para ti e para os teus !

Anónimo disse...

Lois,

As tuas visitas de estudo deviam ser uma excepção à regra. As minhas eram, regra geral, bastante ruidosas e desordeiras. Mas a culpa não é de todos os meninos, mas de alguns, que incitam os outros. Os professores não os conseguiam controlar e era-lhes permitido "libertar as energias acumuladas".


De quem é a culpa?

Da familia, da escola, da sociedade... todos temos um papel importante na educação das crianças.


Deve ser bastante complicado contolar um bando destes.

Mas esta situação é flagrante: e se tivesse acontecido o pior?...

LoiS disse...

Alex:

Eram normais, o libertar a energia qt muito era à canelada ou aos empurrões. Nunca, mas nunca, na berma de uma ponte ou sob uma linha de metro ...

PS. Acima país = pais !!!!!

TONY, Duque do Mucifal disse...

Infelizmente é um cenário comum ás excursões de Liceus do nosso Portugal.
Tu não te estavas para chatear tal como os 3 Proffes não se estavam para chatear. O que eles iam fazer? Embarcar os putos na camioneta r toca a rumar a Norte?
Ou pediam seleccionar os putos que deviam e mereciam ir lá...ao encontro da História de Portugal?
Deviam castigar os desordeiros.
Agora Lois, imagina insurgires contra um dos putos? ah pois é!
Enfim...eu concordo com a opinião do Vinte e Dois.

Paula disse...

Por muito que me custe (e já sabes que custa) tenho de te dar razão... O que está, neste caso, em causa, é o comportamento dos professores... e o comportamento dos professores é inaceitável! Eles são os responsáveis por aqueles miúdos, eles até podiam cair e magoar-se estando ao lado de um dos professores, mas era obrigação deles estar com os alunos! Quando há uma viagem destas, os professores são totalmente responsáveis pelos alunos!

Um professor a beber álcool ou até a fumar em frente aos alunos parece-me totalmente dispensável... É lógico que somos seres humanos, que o fazemos quando nos apetece, mas quando estamos em trabalho temos de nos comportar como tal! E não esquecer que um professor é também um modelo a seguir: somos muitas vezes imitados pelos alunos, principalmente quando somos mais jovens, como me pareceu ser o caso de que falas!

Os bons profissionais não precisam de se demarcar... na generalidade, há bons profissionais... e depois, há alguns que não gostam do ensino, que consideram a docência uma obrigação e não um prazer! Mas isso, como já foi dito aqui, acontece em todas as áreas! Conheço bons e maus profissionais em diversas áreas, como conheço boas e más pessoas! Vamos ter sempre de lidar com os maus... talvez seja a única forma de darmos relamente valor aos bons!!

Olha, o teu professor de Português podia não se esforçar nos testes, mas era muito bom a ensinar recursos estilísticos: "Cá fora, a imagem era monstruosa, daquelas próprias dos filmes: em que os saqueadores se apoderam das aldeias; incendeiam as casas; violam as mulheres"!!!