segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Proxenetismos


Uma reportagem lida por mim hoje no Jornal Publico, relata que “Blogues tranformam prostitutas em escritoras”, dando como exemplo alguns nomes conhecidos da blogosfera ( algumas inclusive amigas de blogoamigas minhas ), que se dedicando à mais velha profissão do mundo avançaram recentemente para a publicação de livros. Isto após interessantes incursões de relatos e experiências intimas em Blogs próprios.

Todos sabemos que o sexo vende. Vende muito bem. No entanto, quanto à temática deste post, o meu mais profundo cepticismo não me liberta por forma a que me convença estar perante escritoras de impulso.

Explico-me:

- Quem na prostituição está por prazer ? - uma minoria acreditamos !

- Quem na prostituição está por necessidade e preso a outrem ( chulo(s), filhos, vícios ... ) ? - uma maioria por certo !

- Quem está de livre e espontânea vontade disponível para relatar ou relembrar o que faz a troco de dinheiro com novos; velhos; pretos; azuis; amarelos; deficientes; auto-eficientes; mal cheirosos; bem cheirosos; gajos; gajas; ”híbridos” ? - poucas !

- Quem luta nesta erroneamente denominada “vida fácil”, gostará e terá facilidade em recordar através da escrita as suas façanhas ? é esse o “repouso do guerreiro” ? - não parece !

Relatar as grandes conquistas e lições sexuais que dão aos clientes, desmascarando muitas das vezes os mesmos ( ou pelo menos lançando a suspeita ) não será um risco ? - é por certo !

Algumas destas escritoras relatam experiências e aventuras com clientes como se de conquistas se tratassem, tal e qual um Don Juan numa versão de implacabilidade sexual, na imagem que a pornografia vende, a tal da mulher multi-orgásmica, ninfomaníaca, sedenta de sexo. Tudo o que um homem sonha !

Ou seja, acredito que muitas - e esta é a minha visão -, têm um novo patamar de proxenetismo a empurra-las para a venda, agora pela escrita, das suas actividades. Mais uma exploração por certo, novo patamar exploratório encontrado por rebuscadas formas de proxenetismo.

Um email recebido referia no final da descrição de um classificado sexual o seguinte: “ Com tantas qualidades não sei como é que fui virar prostituta* ”, pois ...

* dizia “puta”, mas como este texto não pretende atacar quem desta vida faz o seu sustento, não pretendi manchar o mesmo. Aqui o que se trata é de uma crítica aberta ao proxenetismo nesta forma, de acordo com uma interpretação muito particular !

19 comentários:

Maríita disse...

Meu querido,
O meu único comentário é que me parece que hoje em dia tudo o que é marginal ganha força na nossa sociedade. Ainda ninguém me explicou em que é que as prostitutas contribuem para a nossa sociedade, e até esse dia, não lhes tenciono dar mais importância que a um passador de droga. Igualmente marginais, igualmente pouco contributivos para a sociedade.

Não tens nada de melhor para escrever?

LoiS disse...

Acho que é bem interessante o que escrevi Marie. Bastante interessante até.

Leva-nos para uma discussão a montante, que seria o da regulamentação da actividade.

Não podemos tapar a cabeça debaixo da areia, muitas destas jovens precisam de ajuda.

Maríita disse...

jovens?????????? Só se forem as que escrevem blogues, as do parque eduardo VII já eram velhotas quando eu fiz o liceu...

As da noite da Artilharia Um são um poço de doenças ambulantes, o mesmo se pode dizer das do Técnico, desculpa, mas a miséria humana não me atrai mesmo.

LoiS disse...

Entendo o teu ponto de vista, mas a miséria é a mãe de todas as desgraças, não critiques quem sofre.

CaCo disse...

A prostituição é um tema que me faz muita confusão também. Não me repugna como à Maríita, mas confunde-me. É-me difícil conceber que haja alguém capaz de tal profissão por prazer. Não sendo esse o motivo, só o dinheiro. Muito dinheiro. Mais fácil que qualquer outro tipo de actividade e em muito maior quantidade. Também não alimento o consumo desses livritos de merda. Tal como me recuso a ler uma página que seja da Carolina, quanto mais alimentá-la com os meus parcos euros...
Quanto ao proxenetismo, existe em muitas profissões...

Maríita disse...

Eu não critico quem sofre, crítico quem deveria alterar as coisas e as deixa arrastar. Já há muito tempo que se deveria ter legalizado a prostituição ou pelo menos dar-lhes condições que é uma coisa que não existe.

Capitão-Mor disse...

Concordo com este último ponto de vista da Maria. Creio que já e tempo de regularizarem a prostituição como actividade profissional como já acontece em alguns países europeus. Tem com vantagens imediatas a contribuição fiscal de pessoas que auferem rendimentos consideráveis, inspecções médicas regulares e poderá controlar melhor a imigração ilegal e as redes de tráfico internacional de mulheres.
Não faço julgamentos morais sobre a actividade porque cada um é livre de fazer o que bem quiser do seu corpo. Utilidade social? Talvez tenham alguma...Existem muitos celibatários que não se querem dar ao trabalho de levar meninas a passear e outros já não conseguem aturar as patroas lá em casa! :)
E espicaçando a polémica...O que é realmente uma prostituta hoje em dia? Existe muita menina por aí que se rege pelos mesmos princípios. A única diferença é que não cobram após o serviço!

P.S. - Cuidado com as "bocas" foleiras! :) Se eu abrir a boca...

Bolinha disse...

Capitão disse tudo parabens.

LoiS disse...

Prostituta vs Puta. Não confundo as duas definições, não sei se entendes CAPITÂO.

Podes saber que nunca estiveste com uma prostituta, no entanto, não garantes que não tenhas estado com putas.

Mas o que aqui posto é tão só a vertente literária das prostitutas, muitas das vezes, acredito eu, fomentadas e quiça criadas por autênticas sanguesugas da sua condição particular na sociedade.

Legislem sim, regulamentem claro e controlem de facto a prostituição.

Paula disse...

Respondendo às tuas perguntas, e recorrendo às palavras de uma das blogers que virou escritora (a mais conhecida na minha opinião) há quem esteja na prostituição por gosto! Tal como ela disse numa entrevista, ela faz aquilo que gosta e ainda ganha dinheiro com isso! Ela chega mesmo a comparar-se com outros trabalhadores, que não gostam do seu trabalho e são mal remunerados, enquanto que ela chegou a ganhar 10.000 euros por mês!!

Tal como fizeste a distinção, e bem, na minha opinião, há muitas "putas" por aí que não são prostitutas! Por isso, respeito muito mais as prostitutas que as outras!

Agora, e dando a minha opinião pessoal, se o faria? Não! Há pessoas cujo olhar me faz retrair numa possível relação de amizade, quanto mais de sexo! Mas somos todos diferentes... e ainda bem!

LoiS disse...

PAULA:

Como me custa acreditar nisso !

Mas sabendo ser verdade, essa PROSTITUTA que pague impostos como uma qualquer trabalhadora porra !

Tb sou como tu, o contacto físico para mim só é possível qd uma conjugação de sentimentos ocorre. Decorrente de envolvências como o cheiro o tacto a respiração o paladar ... pessoas há, que para muitos são o TOPO e para mim são repelentes !

Capitão-Mor disse...

Ok, parece que chegámos a um entendimento. Agora voltando à componente literárias, creio que essa moda recente das profissionais do sexo escreverem livros está associada ao facto de que apenas o "popular" com componente sexual vender. Eu li o livro daquela fulana Leonor Sousa (ex-stripper( e nunca vi tanta porcaria escrita num calhamaço de mais de 400pags! Mas gostos não se discutem e as editoras têm que sobreviver num mercado com uma fraca percentagem de leitores...

Anónimo disse...

Bem, tive de reflectir um bom bocado antes de comentar este "post" do meu amigo. Resumidamente a minha opinião é:

- legalizar a prostituição seria contribuir para a saúde pública do país e para a contribuição fiscal, já que esta actividade é económica

- Ser prostituta ou puta é a mesma coisa, em ambos os casos se vende o corpo ou serviços sexuais.
Não percebo porque é que uma mulher livre, que lhe apeteça ter relações com um homem diferente todos os dias, mas que não se faz cobrar por isso, tem de ser apelidada de puta (a mim não me fazem mossa, façam o que quiserem, desde que não prejudiquem os outros, é igual a uma mulher que vai jantar fora com um amigo(a) diferente todos os dias). Acho esse tipo de afirmações muito machistas... já para não dizer que há muitos homens que também o fazem.

- por acaso a mim também me parece que existe alguém por trás deste tipo de iniciativas que acaba por meter mais dinheiro ao bolso do que a própria escritora (salvaguardo o facto de não saber nada sobre este assunto, mas talvez fosse uma boa oportunidade para ficar esclarecida)

- realmente a sociedade está recheada de gente que só lê aquilo que não tem interesse nenhum, às vezes pergunto-me a mim mesma se não seria melhor não lerem nada(!?!??!)

- não tenho nada contra as prostitutas, tenho contra o facto de exercerem uma actividade económica liberal e não pagarem os devidos impostos por isso. Mas o mal também é delas... e nosso.

Enfim, mais um problema da nossa sociedade e dos Portugueses.

Beijos

LoiS disse...

Excelente coment Ritó, muito interessante e, pois, coberto de razão !

Anónimo disse...

Escritoras de impulso... sim... porque não poderiam escrever um blog como sendo apenas um diário... é claro que é um blog público e que relata coisas íntimas (com acento), mas quem és tu para por em causa o por em público coisas íntimas? Não o fazes tu mesmo aqui, neste blog?
Já li um dos livros a que te referes e não me pareceu nada mais e nem nada menos que um livro... sem grande literatura.... é verdade... mas que não fica nada a dever a algumas denominadas escritoras portuguesas .... (ups vou ser linchada).
Mais, ainda acho que um dos problemas da nossa sociedade é exactamente não encarar os problemas de frente. Basta de hipocrisia!!!! Venham as putas escrever livros sim... sobre o que é.... ao menos o livro que li, não denunciava nenhum cliente....esse foi um comentário de quem não conhece... (shame on you).
E também não defende nenhum mito... é um relato real, directo, claro, talvez por vezes um grito de quase desespero por ter escolhido esse caminho, mas com uma visão bastante racional e sem grandes frases rebuscadas... sim conseguiu mais clientes... mas porque não congratulá-la por ter sido inteligente?

hehe... não percebi muito bem como me deveria inscrever aqui no teu blog e deixar o nome... podia assinar... mas tu sabes quem fala... (a do contra)

Anónimo disse...

Sim, verdade seja dita que há aí muita escritora reconhecida da praça pública que escreve tão mal, ou pior ainda, do que as prostitutas que resolvem relatar as suas histórias de vida num livro!
Também é verdade que se os livros são comprados é uma forma inteligentede actuar e aproveitar uma oportunidade.
Mas, voltando à questão inicial deste "post", será que a publicação destes livros é da inicitiva da própria ou será que as mesmas são incitadas por proxenetas com o objectivo concreto de angariar fundos à custa dos outros???

Beijos, tenho um novo "post" para comentar!

LoiS disse...

Eu li excertos de alguns livros na reportagem do Público e meus amigos, aquilo é literatura mesmo especial de corrida para vender. Olhem, para aquelas que compram livros para bater uma.

Qual prostituta no seu perfeito juízo relata o que faz livremente ? bem, estarei errado por certo, até à bem pouco tempo ingénuamente pensava eu que nenhuma !

Relatam como se faz um oral; como se dá uma em pé; a fazer o pino; aos trambolhões na cama, enfim ...

É como eu digo, parecem aquelas damas da pornografia que aparentam adorar ser penetradas por 3 homens e ainda gritam a implorar por mais !!!

Continuo a achar que estão a ser usadas como carne humana ao serviço de outrém !

Já agora, foi a Carolina Salgado que escreveu o livro ?

calózita disse...

olha que essa do "com tantas qualidades não sei como fui virar puta" é/foi mesmo verdade! eu li isso, nos classificados do diário de aveiro, faz já uns anitos.

;)

Yashmeen disse...

Lois:

Não, não foi a Carolina Salgado que escreveu o livro dela. Recorreu a uma académica, a Dra. Fernanda Abreu, para que o fizesse. Porém, a Carolina Salgado usa o livro para apresentar a sua faceta de delatora e com fins incriminatórios.
Quanto às outras pessoas a quem te referes, e sabendo que sou eu a amiga de uma delas que indicas no teu blog, conheces bem a minha opinião. Escreve o que viveu? Inventou tudo? Não interessa. Escreveu um livro sobre experiências sexuais, como o Henry Miller ou a Anais Nin. Esta última tem uma obra, "A casa do incesto" que, como o nome indica, fala de relações incestuosas supostamente vividas por ela. Porém, é a Anais Nin e ninguém critica o lado abjecto da questão.
Estas pessoas estão no direito delas de escreverem o que bem lhes apetecer. São muito bem pagas para isso. Ninguém as explora e só compra os livros quem quer, tal como só recorre aos serviços de uma prostituta quem quer. Sinceramente, é uma leitura bem mais divertida que as Margaridas - coiso- Pinto e Ritas Ferro que por aí andam. Entre ler a vidinha triste de uma tia de Cascais e os seus almocinhos no Guincho com as amigas igualmente largadas por empresários de nome Gonçalo ou Lourenço, eu fico com as histórias das prostitutas.
Há uma pessoa por trás de tudo. Há uma mensagem de solidão e de desespero, e de alguém que o conseguiu (mais ou menos) superar. Basta ler nas entrelinhas.. ou não ler, que toda a gente tem esse direito.

Abraço e boa viagem